A jornada do homem exige a transposição de obstáculos que ele mesmo criou, mas no seu limitado entendimento atribui a tais obstáculos a algo externo a ele mesmo. Dirão uns que foi a providência, outros que foi o Criador, outros que foram espíritos obsessores. Outros dirão que seus sofrimentos foram causados por acaso, sempre na tentativa vã de fugir de suas responsabilidades.
Assim como o criado retorna ao Criador, todos os atos do homem retornam a ele, inevitavelmente, como fantasmas, sombras, mal agouros, infortúnios, mas nada é ao acaso, é simplesmente a lei da sincronicidade; o eterno retorno para o novo começo que nada mais é que um recomeço, mas sempre do ponto onde se parou, nunca de um ponto imaginável pela mente do que ela acredita ser o seu nível de evolução.
Quando se fala neste aspecto, sempre entrará a variável do julgamento, como se ele fosse feito por seres de dimensões superiores, conselhos, reuniões infindáveis, uma decisão externa na tendência de justificar os próprios erros. Aquilo que se formou não é bom nem mal, é apenas uma forma de expressão da energia na materialidade.
O exercício do julgamento é sempre interno, nunca se deve processar o julgamento do outro ou das coisas a sua volta. É sempre um juízo de valor interno, um balanço dos próprios atos e atitudes que retornam como cobrador de impostos e somente ele pode saldar essa dívida, ninguém mais. E neste balanço, os prós e contras são pesados, não por uma entidade superior, mas pela própria consciência do indivíduo que deve ter entendimento disso e exercer o seu julgamento de forma correta e clara.
A procura de um salvador
Entretanto, sempre há a procura por um salvador, um redentor, aquele que lave os pecados da humanidade. Os que estão no primeiro nível ainda estão nesta frequência esperando uma materialização do divino e há aqueles que passam para o nível superior, ou para um segundo nível, e prospectam essa mentalidade para os planos superiores. Haverá um salvador e um redentor em algum canto do universo com a sua nave pronta e abastecida para descer à Terra e promover a cura, a cura das aflições da humanidade que ela mesma provoca. Mas somente o próprio homem pode ser o seu próprio deus.
Mergulhados no caos e nas neuroses sempre há a possibilidade do apelo, sempre há uma instância maior para um novo recurso, como se o julgamento fosse algo externo; é a esperança que habita a mente ignorante a espera da luz que atravessará o caos, que diluirá as perturbações da humanidade e purificará a todos e o próprio planeta, rumo à 5ª dimensão.
Este é o maia espiritual que se apoderou de muitos na jornada. Nesta busca pela Fonte, pelo Incriado, pela Luz maior, qualquer destes atributos são usados indistintamente por vários grupos.
Os do primeiro nível se apegam às religiões, se purificam no confessionário e talvez algumas orações resolvam. Os que saíram deste nível, estão no segundo nível e buscam consolo nos extraterrestres, nas divindades superiores. Perceba que há sempre um confessionário, mas sinto desapontá-los que este processo é falível.
Aqueles que adentram neste processo estão limpando ilusões através de uma ilusão maior, o maia espiritual, pois assim como é embaixo é em cima, mas esquecem-se que apenas a lei do retorno, a lei da sincronicidade, que deve ser compreendida para se buscar a verdadeira purificação — que é interna — é quando o homem mergulha num profundo oceano e olha para cima. A superfície da água torna-se o seu limite consciencial e ele busca projetar essa superfície para as profundidades onde habita, quando na verdade é ele que tem que se deslocar através da ação correta, do pensamento correto, procurar a superfície e ressurgir na praia como um herói.
Jornada do herói
Esta é a jornada do herói, o super-homem de Nietzsche, o iluminado do budismo, os santos dos católicos, os curandeiros do xamanismo, os profetas da verdade. Este é o verdadeiro herói que já não pede à luz que venha até ele, mas que desperta a sua luz interna e a projeta como num verdadeiro renascimento e uma clarificação da ignorância que impera nas mentes humanas. Isto se faz com o desapego de todas as crenças limitantes, inclusive as crenças espirituais.
Já disseram há muito tempo: vós sereis julgados pelas suas obras, e não pelas obras da divindade ou de um ser extraterrestre ou de um ser de outra dimensão. Esta purificação interna exige silêncio, o tão falado silêncio da mente; aquela atrelada ao ego que corrompe todas as virtudes do homem. Mas o homem em si não é virtuoso, é preciso que ele acenda este pavio dentro dele mesmo e construa degrau por degrau a sua própria estrutura, a sua própria merkabah. Este é o verdadeiro significado desta estrutura tão mal empregada e difundida.
Quando se fala na merkabah, não é um veículo para levá-los a dimensões infinitas ou a outros planetas, mas, sim, é um veículo para levá-los a sua viagem interna, como aquele homem nas profundidades do oceano que se envolve por sua própria aura, ascende por si mesmo o caminho do bem, a compreensão de que não existem verdades absolutas e, a cada tempo, a verdade é renovada tanto cientificamente quanto psicologicamente. Mas todas essas meias verdades estão dormentes no inconsciente do homem e, no estado de sono, compõem o mundo onírico.
Mas então vem a pergunta: se o ser está tão absorvido pela matéria, tão apegado a tudo isso que está a sua volta, está fascinado pela luxúria da materialidade, com o que ele sonharia? Com o ensinamento libertador ou com conquistas efêmeras? O inconsciente não produz nada além daquilo com o que é alimentado. Se nos momentos de consciência, a consciência do homem está projetada na materialidade de uma forma ímpar, não há como se esperar que em sonhos algo de novo se realize, a não ser aquilo que já está introjetado em sua personalidade, sempre acrescentando comadas e mais camadas ao inconsciente, sufocando aquilo que, no fundo, é tão verdadeiro que ele se esqueceu.
Quem cria o caos
Ele não sabe mais aonde procurar, então projeta a sua consciência para as religiões: “Alguém há de nos salvar, alguém há de clarificar as minhas dúvidas”. Em outro nível, projeta isso para o mundo espiritual: “Algum arcanjo, algum anjo haverá de me encontrar e me resgatar deste caos”. Mas o raciocínio deve ser feito da seguinte forma: quem criou o caos senão o próprio homem? Cada qual deve-se consertar a si mesmo para reintegrar o todo de uma forma mais harmônica.
Como conseguir isso se o que impera é a desarmonia, os desentendimentos, as desilusões, os conflitos, os atritos, a soberba de se achar melhor que os outros? O algoritmo que analisa isso detecta este padrão e exclui o ser deste processo e, ao fazê-lo, impede a evolução, pois não há subterfúgios para esta jornada, há que sair das profundezas do oceano por conta própria num processo de retidão e surgir na superfície como algo novo e melhorado. O trabalho é difícil? Sim, nunca se disse que seria fácil.
E há aqueles que dizem: “Já me desapeguei de todos os bens materiais”. Preste atenção, você simplesmente trocou suas crenças materiais por crenças espirituais e entregou todo o seu futuro a uma fraternidade, a um conselho, a um reino de uma dimensão superior, eximindo-se da responsabilidade de reparar todos os erros e desacertos cometidos na sua jornada.
Num exemplo simplório, é como aquele que está num primeiro nível e joga seu lixo em qualquer lugar e de qualquer maneira e, ao fazer isso, entende que uma vez fora do seu alcance o problema está resolvido. No outro nível, há aqueles que separam o lixo e, ao fazerem isso, se sentem melhores, mas, na verdade, não acompanham o processo inteiro e não se perguntam aonde este lixo está indo. Ele será realmente reciclado ou será mais um engodo?
Esta analogia serve para mostrar que não é um simples ato que eleva a consciência, é preciso acompanhar todo o processo atentamente para ver onde os insights, as revelações e os flashes de consciência estão te levando.
De modo contrário, é como a benção que as igrejas dão assim que se confessa algo. Há que se parar para pensar: eu realmente fui purificado e liberado? Com certeza não. Os seus atos continuam reverberando e não há ninguém na Terra que possa redimir as ações do próprio homem, se não ele mesmo.
Os atos promovem uma marca indelével na linha temporal e esta marca permanece. Não há absolvição efêmera destas marcas, não há água benta, hóstia e nem oração que possa resolver isso. Aquilo que foi feito, que se originou através de uma ação, deve ser desfeito através de uma outra ação, esta é a lei, pois aquele ato permanece reverberando e, mesmo que o ser se iluda achando que resolveu o problema, o problema está aí. Como dissemos, pela lei da sincronicidade, pela lei do retorno, ele volta com uma carga mais forte, e, então, mais orações, mais apelos, mais uma absolvição fictícia, mais uma promessa paga caminhando de joelhos. Entretanto, somente uma contramedida pode reverter aquele ato, ou seja, limpá-lo da marca temporal, transmutá-lo em algo bom.
Pensar antes de agir
Aquele que fere seu vizinho acredita que resgatar um animal perdoará aquelas dívidas. Aquele que abandona um animal, acredita que dar uma marmita a um indigente sanará os seus problemas, isso tudo faz parte do maia espiritual. Aqueles seres que já se desenrolaram do manto do véu da materialidade, se veem presos no manto e no véu da espiritualidade. Por isso, é preciso pensar antes de agir, pois a ação é o último momento do processo da existência, quando se põe aquela energia do pensamento em movimento e somente quem a colocou em movimento pode refreá-la.
Por isso, é necessário a iluminação interna, porque a iluminação externa é temporária. Sim, você pode se sentir melhor ao adentrar um templo e fazer orações ao seu deus, para os seus santos, mestres, gurus e isto nada mais é do que uma troca de energia. Você se sentirá bem, mas é temporário. Enquanto não houver a entrada no templo interno e enquanto você não se ajoelhar para você mesmo, não orar para você mesmo, não criar um mantra seu para o seu próprio interior, para a sua criança interna, estas sensações vivenciadas em retiros, igrejas, procissões, caravanas de fé, visitas a gurus, mestres, pajés, será sempre um conforto temporário. Pois como não houve a mudança interna, eventualmente este ser rodará o seu algoritmo novamente e se pegará fazendo as mesmas coisas; tendo os mesmos pensamentos, os mesmos vícios.
É como os viciados que se internam em uma clínica e acreditam estarem curados e limpos mas não percebem que apenas mudaram o ambiente, passando para um de restrição e não de evolução. Mas ao sair desta clínica, o vício está na esquina, o vício está na televisão, nos computadores, na internet, nas músicas, no Carnaval, nos mercados. Como este ser pode-se dizer curado quando sai de um ambiente de restrição e retorna para a sociedade, onde tudo está a sua disposição? A verdade é, o processo deve ser feito num meio que instiga, aí sim ocorre a transformação plena.
Imaginem um chocólatra, ele para de ir nos mercados, para de ir a todos os lugares, pois sabe que lá estará a tentação e se isola temporariamente acreditando estar curado. Mas quem sabe deveria arrumar um emprego em uma fábrica de chocolate e todo dia meditar ali dentro: “Eu sou mais forte que o meu próprio vício, porque me reconheço como um templo e não preciso ir em templos, eu sou o meu templo”. Esta é a verdadeira clarificação.
Imerso naquele ambiente provocativo, pois os vícios estão atrelados aos instintos — o simples cheiro do chocolate o inebria — agora ele reconhece em si mesmo um templo, seu corpo é um templo que deve ser limpo, afinal, observem, todos os templos, igrejas, sinagogas se dentro dos recintos há algum lixo, alguma coisa jogada no chão, algo fora do lugar. Não, lá está tudo em ordem, mas quando você visualiza o seu corpo como este templo, você se conscientiza que é necessário limpá-lo, deixá-lo limpo, claro, clarificado e esta é a verdadeira jornada do herói.
Para se tornar o herói de si mesmo, não é se isolando do meio que o cerca, mas é entrando na mais densa selva, ou mergulhando no mais profundo oceano, enfrentando todas as criaturas e se estabelecendo neste ambiente como um ser pleno.
Há uma diferença entre os falsamente iluminados e os verdadeiramente esclarecidos. O falso iluminado se protege na torre de marfim, ele está imune às provações do mundo e se diz mestre, mas mestre é aquele que caminha pela imundície e não se comove e nem se afeta por ela. Quando chega neste cenário ele diz: “Limparei este local e não fugirei dele”. Porque toda elevação falsamente espiritual é uma fuga.
No primeiro nível, os seres fogem para a religião e no segundo nível fogem para Sirius, Andrômeda, Plêiades. Mas o que há lá que te faz acreditar que você realmente se elevou? E vão dizer que existem cidades de cristal limpas, puras e existe uma harmonia entre as pessoas mas, ao chegar nesta conclusão, você vê que será impedido de entrar nestes locais. Enquanto você não reconhecer a própria imundície, a própria neurose e o próprio caos interno que a sua mente contém, aonde quer que você vá, ela estará com você.
Alguns poderiam falar: “Se eu estiver em um palácio de Sirius e jogar um lixo no chão, ele se desintegrará automaticamente, mantendo o local limpo”. Não, quem se desintegrará será você. Para que o local fique limpo, você não pode estar lá, porque você agiu e o seu ato levou àquela consequência. Mas muitos acreditam que o problema está no lixo externo, não, está no caos da mente interna.
Monstro do amanhã
O que mostra a jornada do herói? Que para se tornar um herói, ele teve que enfrentar todos os seus medos, não fugiu deles e não delegou a ninguém a sua tarefa e a sua responsabilidade, ele tomou consciência de que é um templo em si mesmo. E tudo aquilo que ele quer ver espelhado no mundo externo, tem que partir de dentro dele.
Todos os seres habitam num mundo de espelhos sempre fugindo do próprio reflexo. Por quê? Porque num primeiro momento é mais fácil, o que não compreendo e não posso resolver agora delegarei para outro ou esconderei no armário. Mas o que o outro fizer com o seu problema é mérito dele e não seu. Ele resolveu o problema, mas não o SEU problema. E o problema guardado no armário é um monstro do amanhã.
Pense na situação em que você chega em casa e vê algumas formigas andando mas não se preocupa com isso, não quer resolver e, um mês depois, milhões de formigas estão lá. Para que prolongar as consequências dos seus atos quando é muito mais fácil resolvê-las de imediato? Este é um exercício prático, toda vez que surgir um mal pensamento você já providencia um pensamento contrário para anular aquilo. Toda vez que você realizar um ato que lhe incomode, que fira alguém, você imediatamente procura esta pessoa para resolver aquilo. Você perceberá com o tempo que, num primeiro momento, pode ser trabalhoso, mas quanto mais você pratica, menos energia você gasta, porque aquilo vai se tornando um hábito. Como dizem, o hábito faz o monge, ele não nasceu monge, se tornou monge pela prática repetidas vezes, entoando os mesmos mantras repetidas vezes, limpando o pátio do templo repetidas vezes, fazendo suas entoações ao divino, isso fez ser hoje um monge. Entretanto, se observarmos, era algo latente em sua alma, mas essa latência só manifestou através da sua própria ação, não surgiu de repente, como um milagre.
Pouco importa se o Criador está neste universo ou em outro, se está nos olhando ou se está de costas para nós, não é atribuição dele percorrer a sua jornada. Isso não é um egocentrismo exacerbado, como não é também uma glorificação da persona, ou enaltecimento do ego, isso é a pura realidade.
Só se constrói algo firme, quando se tem bases sólidas. Então, quando o ser humano tiver fortificado em si, este templo de sabedoria, aí sim ele pode construir um mundo melhor, reverberando esta sabedoria. Ele não se tornará um mestre ou um guru, nem um líder religioso, irá apenas fortalecer o nó do entrelaçamento entre ele e os outros. Como uma onda ele vai percorrendo um vasto campo, como uma onda ele vai quebrando os medos e limpando as crenças, para ao final quebrar-se de vez e tornar-se a superfície harmoniosa do oceano.
Namaskaram
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